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Sumário interativo

A questão da acessibilidade nos comentários dos públicos da Casa da Ciência (UFRJ) e do Museu Ciência e Vida (Fundação Cecierj): reflexões

Karlla Kamylla Passos dos Santos e Jessica Norberto Rocha

Resumo: Os livros de comentários são uma das várias formas de saber a opinião de visitantes, de maneira livre. No Brasil, ter espaço para o registro de opiniões dos públicos em instituições museológicas está previsto no Estatuto de Museus, Lei Nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009. Neste trabalho, debruçamo-nos sobre os comentários de visitantes da Casa da Ciência da UFRJ e Museu Ciência e Vida da Fundação Cecierj, realizados entre 2011 e 2018, com foco na acessibilidade. Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório e qualitativo, em que foi realizada uma análise de conteúdo (BARDIN, 1977).

No escopo de 1.511 comentários analisados, 33 versavam sobre acessibilidade – com sugestões e questionamentos do público a respeito da ausência de acessibilidade e das condições de permanência nas instituições e visitação das exposições temporárias. Mesmo diante do esforço dos/as profissionais dos museus, este é um tema que precisa ser debatido e as medidas nesse sentido devem ser mais efetivas. Consideramos a opinião dos públicos extremamente relevante para os processos e experiências museais, inclusive aqueles com deficiência, que têm o direito ao acesso à vida cultural.

Introdução

Os livros de comentários das instituições museológicas são potencialmente ricos em informações sobre a experiência de visitantes. Ter espaço para o registro das opiniões dos públicos está previsto no Estatuto de Museus, Lei Nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, podendo esse registro ser implementado em diferentes formatos: “Art. 37. Os museus deverão disponibilizar um livro de sugestões e reclamações disposto de forma visível na área de acolhimento dos visitantes” (BRASIL, 2009).

A partir de experiências profissionais que envolviam livros de comentários, bem como em consulta a literatura especializada, observamos que dentre as instituições que disponibilizam esse recurso, poucas pesquisas sistemáticas têm sido realizadas sobre o conteúdo gerado. Por essas razões, é fundamental que o debate sobre esse instrumento de coleta e registro de informações da opinião dos públicos de espaços científico-culturais seja realizado constantemente.

Este estudo faz um recorte dos dados coletados para a dissertação da primeira autora deste capítulo[1], orientada pela segunda autora. O estudo foi realizado com as informações dos livros de comentários de duas instituições no Rio de Janeiro, a Casa da Ciência (CC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Museu Ciência e Vida (MCV) da Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro (Fundação Cecierj). As informações registradas por visitantes entre os anos de 2011 e 2018 foram recolhidas, catalogadas e descritas, totalizando 1.511 comentários escritos. A partir dessa fase de organização, seguimos para a análise de conteúdo (BARDIN, 1977).

No processo de organização dos dados, o seguinte comentário nos chamou atenção, levando-nos à escolha pela temática da “acessibilidade” neste trabalho:

Sou deficiente auditiva e não pude acompanhar a visita ao Planetário, uma vez que, no escuro, não há como realizar a leitura labial. Sugiro a instalação de mecanismos de reprodução da fala do guia individuais, como pontos de escuta. Parabéns pela acessibilidade aos cadeirantes (Livro de comentários, MCV, jun. 2014) (PASSOS DOS SANTOS, 2019, p. 132).

Diante desse comentário, incluímos a categoria “acessibilidade” no corpo de categorias de análise dos registros coletados, visto que desencadeou um olhar voltado à acessibilidade e inclusão, sobretudo aos desafios ainda encontrados pelos museus e centros de ciências nesse aspecto. Afinal, ninguém deve ser excluído da vida cultural por ter uma deficiência. Lembramos que, desde 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos já postulava em seu artigo 27º: “Toda pessoa tem o direito de tomar parte livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam” (ONU, 1948).

Diante desse contexto, o presente capítulo visa explorar e analisar os registros sobre acessibilidade dos livros de comentários da Casa da Ciência e o Museu Ciência e Vida, a fim de provocar a reflexão sobre as opiniões e demandas dos seus públicos, em especial, aqueles com deficiência.

A Casa da Ciência da UFRJ e o Museu Ciência e Vida (Fundação Cecierj)

A Casa da Ciência da UFRJ é uma instituição fundada em 1995, que conta com livros de comentários desde 1998 e que se apresenta como um centro de popularização da ciência, desenvolvendo seu trabalho por meio de exposições, oficinas, peças teatrais e outros. Sua localização, no bairro Botafogo, na zona Sul da cidade do Rio de Janeiro (região que possui alto Índice de Desenvolvimento Humano – IDH – e renda per capita) influencia diretamente nas características dos públicos que têm acesso a esse espaço. A instituição toma como desafio manter a motivação dos/as visitantes a ter curiosidade, questionamentos, fazerem descobertas e buscarem respostas.

O Museu Ciência e Vida da Fundação Cecierj está aberto desde 2010, mas com funcionamento efetivo desde 2012, e tem o livro de comentários desde sua inauguração. Está sediado em um antigo prédio do fórum do município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ). A instituição tem como missão popularizar e difundir cultura, ciência e arte. Identificada como um dos poucos equipamentos culturais da baixada fluminense, está localizada em uma região que apresenta IDH e renda per capita mais baixos que os da região onde está localizada a Casa da Ciência.

Os comentários sobre acessibilidade

Inseridos em regiões de diferentes IDHs, o que faz com que cada perfil de público seja particular a cada instituição (PASSOS DOS SANTOS, 2019), em ambos os museus/centros de ciências, a acessibilidade, inclusão, permanência foram temas que surgiram nos comentários, envolvendo várias questões relacionadas ao acesso, à inclusão e à permanência dos visitantes. Identificamos 33 comentários – o que equivale 2,1% do total de 1511 analisados –, sendo 18 do Museu e 15 da Casa. Importante mencionar que a CC tem mais que o dobro dos comentários do MCV, de forma geral (PASSOS DOS SANTOS, 2019), mas a quantidade se igualou no que diz respeito à acessibilidade.

Os comentários considerados para esta pesquisa foram escritos em praticamente todo o período da análise, ou seja, de 2011 a 2018 – o que pode evidenciar que é uma demanda contínua desses espaços. São 21 escritos com data, seja registrada pelos públicos, ou depreendida da organização dos livros por exposições, sendo todas temporárias (no caso da Casa da Ciência, há um livro por exposição). Desses, o ano de 2012 teve maior número, com seis comentários. Os anos de 2013 e 2015 a 2017 apresentaram menor número: dois comentários em cada ano.

 Os comentários versam sobre os tipos de acessibilidade: a) física – que concerne ao espaço como o prédio geral, banheiro, bebedouro, auditório; b) comunicacional – com relação à divulgação e aos aspectos de comunicação dentro do espaço, como os textos expositivos; c) atitudinal – ações de todas as pessoas que trabalham na instituição, que contribuam ou não para a inclusão e melhor comunicação com os públicos diversos (AIDAR, 2002; PASSOS DOS SANTOS, 2016; SARRAF, 2008).

Referente à acessibilidade física, há a sugestão da disponibilização de um automóvel para o acesso ao museu:

Adorei a exposição! Trouxe meu irmão que é cadeirante e por isso estou fazendo a sugestão de disponibilizar 1 mega (sic) de automóvel para esse tipo de visitante. Facilitaria muito o acesso ao museu (Livro de comentários, CC, 2018) (PASSOS DOS SANTOS, 2019, p. 129).

É importante destacar que as cidades não são acessíveis, sendo muitas as barreiras para se chegar ao museu, especialmente para visitantes que não possuem veículo próprio. Essa dificuldade abrange não só as pessoas com deficiência física, mas também outros públicos que têm renda menor para arcar com o transporte. Ademais, muitas dessas pessoas moram longe e, para elas, eventualmente, sair de casa pode ser até perigoso, em função da violência urbana. Também é relevante mencionar a importância da autonomia: não basta a pessoa chegar ao museu, ela precisa poder permanecer no mesmo e realizar a visita sozinha.

Nesse contexto, outros/as visitantes solicitam que haja um transporte efetivo para o público escolar: “Excelente trabalho. No entanto seria importante a visitação as escolas, particularmente, municipais tendo em vista a dificuldade de transporte dos alunos (Livro de comentários, CC, nov. 2016)” (PASSOS DOS SANTOS, 2019, p. 130). Esse comentário é importante por tocar em uma questão também recorrente nesses espaços fixos, que é a falta da itinerância; algumas pessoas são impossibilitadas de conhecer o que há naquele espaço, por diversos motivos, como falta de mobilidade, condições financeiras, dentre outros.

Para minimizar essas barreiras, as instituições podem pensar em ações extramuros, por meio das quais as coleções, exposições, e outras atividades vão além dos muros do espaço museológico (SANTANA, 2011), em processos de itinerância específicos de coleções científicas, como aqueles estudados por Norberto Rocha (2018); além de disponibilizarem um ônibus para acesso de grupos escolares, como tem o Museu da Vida da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

No que concerne às acessibilidades comunicacional e atitudinal, existem alguns registros sobre o processo de divulgação dos museus para visitantes – que é o primeiro passo para que as pessoas saibam da existência daquele espaço: “Excelente exposição! Digna de país de primeiro mundo. Alto valor científico! Sugestão: Maior ampliação na divulgação em redes sociais (Twitter, Instagram, Facebook, etc). #nota10 (Livro de comentários, CC, jul. 2017)” (PASSOS DOS SANTOS, 2019, p. 130). Uma divulgação mais intensa dos eventos e exposições é uma necessidade de que muitas instituições museológicas compartilham.

A Casa da Ciência e o Museu Ciência e Vida têm sites e redes sociais como Facebook, Twitter, Instagram, mas, muitas vezes, tais recursos não estão atualizados, como sinaliza outra pessoa: “O site do museu está desatualizado, está com a programação do mês de maio ainda. Obrigada (Livro de comentários, MCV, jun. 2015)” (PASSOS DOS SANTOS, 2019, p. 130). Embora o comentário seja de 2015, sabemos que a dificuldade de atualização contínua das redes sociais é sempre atual, devido principalmente à sobrecarga dos/as profissionais que trabalham em muitos centros culturais.

Outro ponto importante que os comentários abordam na questão comunicacional, principalmente no Museu Ciência e Vida, é a falta de sinalização: ausência de fachadas e painéis indicando que é um museu, que a entrada é gratuita, o horário de funcionamento, atividades, e outras informações que são essenciais para atrair o público. É interessante observar que a pessoa que fez o comentário abaixo, deu exemplos para que o Museu possa se inspirar para melhorar sua sinalização:

Gostaria de sugerir painéis externos na fachada do prédio com o conteúdo das exposições. Para entender melhor observe os modelos do CCBB, Casa França-Brasil e Espaço Cultural dos Correios. Creio que assim ira quebrar-se o encanto e o Museu atrairá mais a população local. (Livro de comentários, MCV, jun. 2014) (PASSOS DOS SANTOS, 2019, p. 131).

Esse tipo de observação não se apresenta nos comentários dos livros da Casa da Ciência, que tem uma placa afixada do lado de fora com os dizeres: “Confira a nossa programação! Entrada Franca” e “Entre que a Ciência é sua! Conheça a Casa da Ciência da UFRJ Explore Descubra Questione”.

Outro ponto que merece destaque no comentário anterior é a existência de barreiras invisíveis, subjacentes ao fragmento ‘quebrar-se o encanto e o Museu atrairá mais a população’; a pessoa parece ter consciência de que a instituição museal tem atrelada a si certa ideia de sacralização, e que é preciso maior divulgação desse espaço; que se convide as pessoas, para que elas tenham vontade de visitá-lo. Outro comentário que exemplifica essa abordagem:

Olá, viemos pela primeira vez e gostamos bastante. Porém preciso observar que a exposição LUZ possui vocabulário um tanto quanto inadequado – técnico demais – visto as variadas idades e a complexidade do tema. Abraços (Livro de comentários, MCV, jul. 2015) (PASSOS DOS SANTOS, 2019, p. 131).

Também sobre a acessibilidade comunicacional, trazemos um registro de sugestão do que ainda falta às instituições, por exemplo, um/a intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras): “Sugiro ter um intérprete de LIBRAS p/ ajudar aos surdos nas exposições (Livro de comentários, MCV, jul. 2014). Destacamos que a presença de um/a profissional que saiba a língua é essencial para instituições que estão abertas ao público. Até o presente momento, não são muitas pessoas habilitadas para se comunicar em Libras, embora esta seja uma língua oficial do Brasil desde 2002 (Lei nº 10.436).

Soma-se a isso o fato de que a referida língua ainda não é aprendida nas escolas e universidades, de forma significativa. Além disso, Carletti e Massarani (2015) destacam que, apesar dos esforços, a maioria das instituições museológicas de ciências não oferecem preparo para que as mediadoras recebam públicos com alguma deficiência. Ainda sobre este ponto, convém reforçar o quanto é relevante ter profissionais com deficiência nas instituições museais.

Outros comentários solicitam recursos de acessibilidade de maneira mais direta, por exemplo, pedindo a implementação de “[…] audiodescrição e textos em braille (Livro de comentários, MCV, sem data)” (PASSOS DOS SANTOS, 2019, p. 132). Os escritos diversos reforçam a necessidade de maior acessibilidade e meios de permanência para todas as pessoas, sem exceção. E, pensando em integração, nos referimos também à questão atitudinal e comunicacional, uma vez que essas questões vão além do público com deficiência: trata-se de falar com todos os públicos, como é relatado no comentário a seguir.

Tarde maravilhosa, de muito aprendizado em família orientado pela [nome da mediadora] que ensinou numa linguagem acessível a esse menino de 6 anos mantendo a atenção e o entusiasmo dela durante toda a exposição. Muito obrigado! Voltaremos! (Livro de comentários, CC, dez. 2016) (PASSOS DOS SANTOS, 2019, p. 132).

Dessa maneira, os públicos expressam seu reconhecimento da importante ação da equipe da Casa da Ciência em promover verdadeiramente a inclusão de uma diversidade de público no espaço, independentemente de este possuir declaradamente algum tipo de deficiência ou simplesmente ter uma idade diferente da maioria do grupo, assim como altura, nível de compreensão e outras especificidades. Destarte, a acessibilidade favorece quaisquer tipos de público, seja ele singular em idade, em escolaridade e/ou em outras necessidades que podem ser demandadas.

Outro comentário também se refere à questão atitudinal, porém, dessa vez, em uma visão negativa, que pode afastar a visitante do espaço: “Não gostei da recepção, minha filha ficou na porta, não sabia como abrir e as funcionárias da recepção tanto não ajudaram quanto zombaram (Livro de comentários, MCV, 2011)” (PASSOS DOS SANTOS, 2019, p. 132-133). Ainda que tenhamos visualizado alguns comentários negativos, tem-se aqueles que reconhecem o esforço da instituição pela tentativa de promover a acessibilidade e a parabeniza por isso.

Parabéns a todos por esse projeto tão importante e motivador, que valoriza a acessibilidade e propicia aos portadores de necessidades especiais estar participando e interagindo c/ o mundo de uma forma tão significante (Livro de comentários, CC, mai. 2012) (PASSOS DOS SANTOS, 2019, p. 133).

Cabe destacar que participar e interagir com a sociedade é uma função mínima dos equipamentos públicos, estando previsto na Lei Brasileira de Inclusão, Nº 13.146, de junho de 2015, (BRASIL, 2015). Reconhecemos os esforços de quem trabalha nos espaços, mas também salientamos o descaso do poder público em prover subsídios, recursos e políticas públicas para que, de fato, essas instituições possam se instrumentalizar e se estruturar para receber, acolher e promover a fruição das pessoas com deficiência.

Para não concluir…

Sabemos que ainda existe o desafio de implementar estratégias de acessibilidade em espaços científico-culturais, como evidenciado em produções da área (NORBERTO ROCHA et al., 2017a, 2017b, 2020). A Casa chegou a fazer parcerias com instituições para maior acesso e permanência em suas exposições, inclusive foi realizada uma exposição intitulada “Cidade Acessível” – que obteve comentários e está dentro do recorte temporal da pesquisa.

Contudo, os dados não foram incluídos porque só tivemos acesso ao material quando a análise já estava em processo de finalização, já que a documentação da instituição estava em fase de organização. Esses dados serão analisados em estudos futuros. A mostra também foi montada no Museu da Vida/Fiocruz-RJ e aberta ao público em março de 2019 –, abordando especialmente questões sobre a inclusão social das pessoas com deficiência, contando com material de divulgação em braille.

Com relação ao baixo número de comentários sobre a acessibilidade (33), ponto que se sobressaiu na nossa análise e categorização geral dos dados; isso pode evidenciar duas problemáticas que devem ser estudadas em maior profundidade: a) dificuldade de acesso das pessoas com deficiência às exposições; e b) ao livro de comentários que não é acessível a pessoas cegas e/ou analfabetas, por exemplo.

Observamos que os comentários registrados foram realizados principalmente por familiares e acompanhantes de pessoas com deficiência e/ou preocupadas com a acessibilidade e permanência no local. Um número menor de comentários é claramente de pessoas que enfrentaram barreiras diretas de acesso e permanência nos museus e centros de ciências. Quando pudemos identificar as vozes dessas pessoas, elas deixam claro que a preocupação com a acessibilidade é contínua.

Outra inquietação que sobressai a partir dessa discussão é que o livro de comentário, da forma como ele é tradicionalmente disponibilizado nas instituições – ou seja, em um caderno – não é plenamente acessível a todos os públicos. Pessoas com deficiência visual ou baixa visão, de baixo letramento, surdas (não alfabetizadas em português) ou ainda com alguma deficiência intelectual ou de comunicação, pouco têm oportunidade de deixar seu comentário, reclamação ou sugestão registrados para a instituição. Nesses casos, levamos em consideração, não somente as múltiplas deficiências, mas também as disparidades de acesso à educação no Brasil, em que são cerca de 11 milhões de analfabetos, o que corresponde a 7,2% da população com 15 anos ou mais, a região Nordeste apresenta a maior taxa (14,8%), e são maioria de homens (7,4%), pretos ou pardos (9,9%) (IBGE, 2016).

Os livros de comentários das instituições museológicas são potencialmente ricos em informações sobre a experiência de visitantes e ter esse espaço para o registro das opiniões dos públicos, de forma acessível a todas as pessoas é fundamental. Diante disso, a primeira consideração a se fazer é que sugerimos, além do tradicional livro de comentários, também haja um livro com espaço para desenho (como a Casa tem em algumas exposições, mas destinados mais às crianças) e outras formas de comunicação, como gravadores, filmadoras e outros métodos de coleta e registro de opiniões.

Consideramos, também, de extrema relevância que os museus e centros de ciências, não somente os estudados nesta pesquisa, atentem para o forte potencial dessa ferramenta para coletar dados sobre a opinião de visitantes e que se inclua o acesso solicitado, por meio dos livros de comentários, em suas várias esferas: física, sensorial, atitudinal.

Reconhecemos a importante presença dos livros de comentários nas instituições culturais aqui referenciadas, mas observamos, ao longo do nosso estudo, que essa não é uma prática recorrente em outros museus e centros de ciências. Sabemos ainda que, muitas vezes, quando as instituições possuem esses livros de comentários, não são capazes de realizar uma pesquisa sistematizada dos conteúdos registrados, por diversas razões (dentre elas, questões financeiras e organizacionais, como limitado corpo de profissionais).

No caso das instituições aqui abordadas, recomendamos que ambas façam uso do conteúdo dos livros e tentem aplicar as sugestões e reparar os eventuais problemas apontados. Além das questões complexas mostradas nos comentários de visitantes, observamos também que muitos deles parabenizam e agradecem a acolhida dos museus – o que igualmente é relevante para a instituição, porque evidencia que seu público a reconhece como um equipamento de cultura e fruição e que, além disso, possibilita que diferentes públicos participem e interajam de alguma forma.

Por fim, argumentamos que estudos como este tem nos oportunizado corroborar sobre o potencial dos livros de comentários como instrumento de coleta de dados sobre a experiência museal dos diversos públicos, mas que ainda são utilizados de forma rara, sendo territórios ainda inexplorados. Quando analisamos esses livros, especialmente do ponto de vista da acessibilidade, é notória a existência de lacunas e barreiras para que as instituições concedam pleno acesso e permanência a seus públicos; porém, também observamos que as mesmas têm investido em sanar essas demandas e que, apesar dos desafios enfrentados, seguem com a preocupação com a acessibilidade.

Referências

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[1] Este capítulo é parte da dissertação de mestrado ‘Territórios pouco explorados: os registros de visitantes em livros de comentários da Casa da Ciência e Museu Ciência e Vida’ (PASSOS DOS SANTOS, 2019).

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