Compartilhe/Share

Sumário interativo

Fundação Planetário e Museu do Universo: rumos da acessibilidade

Thayan da Silva Lopes (in memoriam), Andréa Espinola de Siqueira, Magui Aparecida Vallim da Silva, Wailã de Souza Cruz, Flavia Pedroza Lima e Leandro Lage dos Santos Guedes

Resumo: A Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro é uma instituição cinquentenária, dedicada a difundir a Astronomia e as ciências afins. Ela se destaca como um espaço que oferece a seus visitantes sessões de planetário, equipamentos interativos, exposições temporárias e visitas guiadas em seu museu, além de cursos de Astronomia, observação do céu com telescópios e uma agenda cultural que vai de shows a sessões de cinema.

Neste capítulo, compartilhamos avaliações, ações e planos relacionados aos públicos com deficiências aplicados em nossos espaços de visitação e no ambiente de trabalho. Trata-se de uma reflexão que julgamos rica, por estarmos em um centro onde se desenvolvem diferentes práticas de educação não formal, com características bastante particulares, como a interação e a experiência nas sessões de cúpula e no Museu do Universo. Descreveremos experiências, acertos e limitações que estamos utilizando como base para planejar ações atuais e futuras, com o objetivo de superar as barreiras observadas em centros e museus de ciências com perfis semelhantes que já tenham se colocado na inevitável e necessária rota de se tornarem acessíveis.

Introdução

No momento em que escrevemos este capítulo, o Planetário comemora 50 anos de existência (Figura 1). Desde sua inauguração, nossa instituição tem evoluído na proposta de oferecer a seus visitantes conhecimento científico, cultura e lazer, buscando aprimorar as condições de acessibilidade locais, de forma a acompanhar a evolução do conhecimento a respeito desse assunto. Várias iniciativas foram realizadas no intuito de desmontar as barreiras que tornavam a visitação das pessoas com deficiência mais difíceis. Nosso espaço mais jovem, o Museu do Universo, inaugurado em 2004, foi desenvolvido com planejamento arquitetônico e museal, seguindo as leis vigentes, com cuidados ergométricos para que pessoas em cadeiras de rodas tivessem acesso total ao acervo (Figura 2).

Composição vertical de duas imagens externas mostrando o prédio do Planetário do Rio. Na imagem superior, está a fachada da entrada principal do Museu do Universo, composta por um teto inclinado de vidro escuro entre dois blocos de cor cinza. No bloco da direita, há um relógio de sol vertical. A imagem inferior mostra uma tomada frontal das duas cúpulas do Planetário e a entrada do prédio original. Em posição anterior, a Cúpula Galileu Galilei, em cor verde, e, em posição posterior, a Cúpula Carl Sagan, em cor azul. Em ambas as laterais da imagem há árvores e, ao fundo, prédios residenciais da vizinhança. No canto inferior esquerdo da imagem, à frente da entrada do prédio original, está o estacionamento, com carros estacionados.
Figura 1: Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro (2010). Fonte: Acervo institucional.
Em fundo branco, há dois círculos concêntricos com pouca opacidade. Sobre eles, um esquema colorido é apresentado. Em laranja, há uma linha horizontal representando o chão. Além disso, também em laranja, há um contorno em um arco de trinta graus dos círculos concêntricos, ao lado direito, representando um diorama côncavo. Em azul escuro, no canto direito da imagem, há algumas marcações, por meio de linhas verticais, com setas opostas nas duas extremidades, demarcando a altura em metros. No centro do diorama côncavo, há um painel a uma altura de um metro e trinta centímetros. No centro da figura, há quatro desenhos de pessoas, esquematizadas em perfil, de diferentes alturas. A mais próxima do painel, em verde, representa uma criança. Abaixo, uma linha horizontal azul escura, com setas em suas extremidades, representa a distância da criança ao painel: setenta e seis centímetros. Atrás dela, em preto, há uma representação de uma pessoa cadeirante. Depois, uma pessoa desenhada em vermelho, de pé, seguida por outra mais alta, esquematizada em azul claro, com a demarcação de distância igual a um metro e noventa e seis centímetros. Da altura dos olhos das quatro pessoas, linhas são traçadas, formando ângulos de trinta graus, em direção ao diorama, de forma a representar possibilidade de visão e interação com o painel em diferentes alturas do olhar.
Figura 2: Estudo ergonômico realizado para a área de ocupação do Museu do Universo (2004). Fonte: Acervo institucional.

Nos anos seguintes, algumas obras realizadas nas entradas e no entorno do Planetário melhoraram a acessibilidade para as pessoas com mobilidade reduzida ou em cadeiras de rodas. Ainda, foram implementadas iniciativas no âmbito da mediação no museu, como o desenvolvimento de uma escala de tamanhos e distâncias no Sistema Solar, para visitantes cegos. Em 2008, estreou-se a sessão de planetário Uma viagem pelo espaço, voltada para surdos, com a cooperação do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines).

Nos últimos cinco anos, três pesquisas foram realizadas sobre acessibilidade no Planetário. A primeira foi em 2016, quando participamos do primeiro Guia de museus e centros de ciências acessíveis da América Latina e do Caribe, que realizou uma pesquisa on-line sobre as acessibilidades física, visual, auditiva e intelectual de diversos museus de ciências (NORBERTO ROCHA et al., 2017; 2020).

No ano seguinte, o Planetário recebeu o estudante de licenciatura em Ciências Biológicas da Uerj Thayan da Silva Lopes, uma pessoa em cadeira de rodas, junto com suas orientadoras, para a realização de sua monografia de conclusão de curso. Nela, Thayan analisou as condições de acessibilidade da instituição.

Por último, também em 2017, foi realizada a quarta rodada da pesquisa Museus de Ciência e seus visitantes: pesquisa perfil-opinião, do Observatório de Museus e Centros de Ciência (OMCC&T), grupo do qual o Planetário faz parte. Dessa vez, foi incluída na pesquisa uma pergunta para obter mais informações sobre as pessoas com deficiência que visitam esses espaços.

Mediação com material adaptado para cegos

            Em 2008, começamos a utilizar dois experimentos que se mostraram muito instrutivos para pessoas cegas: um para explorar as escalas de tamanho dos planetas do Sistema Solar e o outro, as escalas de distância entre eles. Este segundo experimento foi desenvolvido por estudantes do curso de Designda Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) e consistia em uma corda fina, com pequenas esferas colocadas em escala proporcional de distância em relação ao Sol. Já o primeiro consistia em esferas de diâmetros proporcionais aos tamanhos dos astros. Tais materiais eram utilizados em alguns cursos realizados no Planetário, como a colônia de férias Brincando e aprendendo Astronomia.

Tivemos a oportunidade de apresentar esses experimentos a uma turma de cegos. Eles foram muito bem recebidos pelos alunos, que tiveram total autonomia para manusear e perceber as escalas. Posteriormente, os materiais foram utilizados outras vezes com esse público.

Sessão de planetário em Libras

O Planetário do Rio produziu a primeira sessão de planetário do Brasil utilizando a Língua Brasileira de Sinais (Libras), intitulada Uma viagem pelo espaço. Com a cooperação do Ines, o programa estreou no dia 25 de setembro de 2008, em homenagem ao Dia Nacional do Surdo, comemorado no dia 26. Utilizando os recursos do projetor de estrelas Universarium e vários projetores auxiliares, o ator surdo Nelson Pimenta (cuja imagem era projetada em um desenho de nave espacial) percorria o espaço apresentando os planetas, estrelas, constelações e os mitos a elas associados.

Essa sessão foi bem recebida pela comunidade Surda, por exibir um excelente conteúdo e material visual, mas não escapamos de críticas. Alguns participantes surdos relataram dificuldade com a falta de intervalos de tempo necessários entre a observação das imagens astronômicas que eram exibidas e a janela com a interpretação em Libras.

Hoje, a sessão não pode mais ser oferecida, por questões técnicas dos equipamentos do Planetário, que foram modificados.

Guia de museus e centros de ciências acessíveis da América Latina e do Caribe

Em 2016, o Planetário do Rio participou de uma pesquisa que tinha como objetivo investigar a acessibilidade em espaços científico-culturais que promoviam a divulgação da ciência e da tecnologia. O projeto culminou na publicação do primeiro Guia de museus e centros de ciências acessíveis da América Latina e do Caribe (NORBERTO ROCHA et al., 2017). Os questionários foram respondidos pelos astrônomos do Planetário e por profissionais de outros setores da instituição, e os resultados foram divididos em três áreas (física, visual e auditiva), além de informações gerais.

Na área de acessibilidade física, foi relatado que, no Planetário, havia algumas entradas e saídas que atendiam à necessidade de acesso; alguns banheiros e bebedouros eram adaptados a pessoas com deficiência física; existia estacionamento com vagas reservadas e seus espaços (como algumas áreas do museu, auditório e sala de reuniões) eram acessíveis a pessoas em cadeira de rodas, mobilidade reduzida ou baixa estatura.

Na acessibilidade visual, foram referidas placas e painéis das exposições que tinham pauta ampliada, além de alguns experimentos e objetos que podiam ser manipulados ou tocados. Desde 2018, quando houve a reformulação nos experimentos, alguns desses itens não estão mais no museu.      

Já sobre acessibilidade auditiva, a sessão de planetário em Libras, que ainda era exibida na época, foi mencionada, assim como as visitas mediadas com acessibilidade, quando solicitadas.

Condições de acessibilidade no Planetário do Rio

             A pesquisa do aluno Thayan da Silva Lopes, intitulada Avaliação da acessibilidade no Planetário da Gávea (RJ) (LOPES, 2017), foi dedicada a levantar questões ou problemas relacionados à acessibilidade dos espaços de uso público do Planetário do Rio (Figura 3). A avaliação foi feita por meio de uma checklist baseada em Fenacerci (2008), e a coleta de dados foi realizada em seis visitas ao local de estudo, além de conversas informais com membros da equipe do Planetário.

Imagem vertical de um ambiente interno. Ao lado direito, pilastras formadas por pequenos azulejos vermelhos e quadrados, com um espaçamento branco entre si, erguem-se para sustentar o teto do local. Ao lado esquerdo e também ao fundo, observa-se um mezanino, delimitado por barras pretas verticais e horizontais. Essas barras também contornam uma rampa de acesso ao segundo andar, que começa em último plano e vai se alongando em direção à base da imagem. Ao centro, há dois homens de costas. Um deles, à direita, é loiro, tem o cabelo preso, veste blusa social e calça jeans. Ele caminha enquanto olha para sua esquerda, em direção ao outro homem, de blusa preta e cabelos escuros, numa cadeira de rodas motorizada, subindo a rampa junto ao loiro.
Figura 3: Rampa de acesso aos andares superiores do Museu do Universo no Planetário do Rio (2017). Fonte: Acervo de Andréa Espinola de Siqueira.

            Os resultados indicaram que adaptações precisam ser feitas para receber pessoas com deficiência, tanto nas áreas do museu e das cúpulas, quanto nos acessos de entrada do local. Para o acesso do visitante em cadeira de rodas, alguns equipamentos interativos precisam ser adaptados, assim como as rampas que levam aos andares superiores, a Praça dos Telescópios, a delimitação de lugares e os assentos específicos nas cúpulas. Para os visitantes com deficiências auditiva e visual, o Planetário não possui informações em sistema braille, assim como intérpretes de Libras em sua equipe.

            Sugestões de adequação foram elencadas, como: nivelamento do piso em uma faixa lisa, ligando as vagas no estacionamento até a rampa que dá acesso à porta de entrada; instalação de sinalização por pisos táteis e corrimão duplo na rampa interna; adequação das atividades interativas, por meio de fones de ouvido e gravações explicativas; além de contratação de intérpretes de Libras.

Foi sugerida a integração do Planetário do Rio com o Ines e o Instituto Benjamin Constant (IBC) para projetos em colaboração, que visem a adequar os ambientes e planejar as novas intervenções nos experimentos com o público. Dessa forma, a pesquisa desenvolvida por Lopes não se encerrou no trabalho monográfico em si, uma vez que deu início a uma rede de colaboração para implementação de ações conjuntas, iniciadas em 2017, com as visitas das Comissões de Acessibilidade dessas instituições.

Dentre os membros dessa rede, não é demais mencionar que a equipe da comissão do IBC (que inclui pessoas com deficiência visual) era composta pela coordenadora Maria da Glória de Souza Almeida e seus representantes: Claudio de Alvarenga Corrêa Soares, José Francisco de Souza, Jorge Fiore de Oliveira Junior, Regina Katia Cerqueira Ribeiro e Vitor Alberto da Silva Marques.

Essa busca por parcerias para o avanço na questão da acessibilidade nos levou, ainda, a nos ligar à Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Tecnologia (SMDT) – por meio de um acordo de cooperação assinado em 2020 –, que também nos tem dado suporte para orientar o desenvolvimento de novas ações.

            Dentre as sugestões dadas pela SMDT, temos: utilização de tablets com as informações em Libras; presença de um intérprete de Libras/LP; presença de um educador surdo bilíngue com formação na área de Astronomia ou áreas afins e, nos textos das exposições e espaços museais, a utilização de fontes maiores, com cores contrastantes entre as letras e o fundo.

Museus de ciência e seus visitantes: pesquisa perfil-opinião 2017

A Fundação Planetário participa de um grupo de pesquisa interinstitucional, chamado Observatório de Museus e Centros de Ciência e Tecnologia (OMCC&T), que tem como objetivo conhecer o perfil e a opinião do público espontâneo das instituições participantes (COSTA, 2015). A pesquisa quadrienal feita pelo grupo é realizada desde 2005. Inicialmente, ele era denominado Observatório de Museus e Centros Culturais (OMCC), mas foi extinto em 2011, ressurgindo em 2013, com o nome mencionado.

Um questionário autoaplicado foi usado nas quatro edições, com questões sobre antecedentes e circunstâncias da visita, opinião, hábitos culturais e perfil do visitante. Em 2017, três perguntas sobre a pessoa com deficiência foram acrescentadas ao questionário. Elas visavam saber se o visitante, ou quem o acompanhava, possuía algum tipo de deficiência e, em caso positivo, quantas eram essas pessoas e de que deficiência se tratava.

A pesquisa, que contou com 570 questionários válidos, está na etapa de consolidação dos dados. No entanto, os resultados preliminares indicam que, daqueles que responderam ao questionário, aproximadamente 4% eram pessoas com algum tipo de deficiência ou acompanhavam alguém com essa característica.

Segundo os dados do Censo de 2010, realizado pelo IBGE, naquele momento, 6,7% da população brasileira possuíam algum tipo de deficiência (física, intelectual, auditiva ou visual) (IBGE, 2010). Portanto, ao comparar os dois resultados, podemos perceber que, de alguma forma, a Fundação Planetário pode e tem a obrigação de melhorar sua acessibilidade, diminuindo os diversos tipos de barreiras que possam impedir ou limitar a participação das pessoas com deficiência em seus espaços e arredores, com segurança e autonomia.

Acessibilidade e inclusão no ambiente de trabalho

A instituição também tem como objetivo garantir o acesso de trabalhadores com deficiência a seu quadro de funcionários. Esse movimento se deve à percepção de que uma das principais barreiras que impõem limitações para receber pessoas com deficiência no mercado de trabalho é a de caráter atitudinal, muito por uma construção social arcaica que subestima a capacidade de atuação dessas pessoas como profissionais. Nossos mediadores do Museu do Universo são estudantes de ensino médio de escolas públicas ou particulares, com bolsa de estudos fornecida pela escola. Esses são os dois pré-requisitos para a contratação. Em 2015, pensando na demanda por acessibilidade e inclusão mencionada, alteramos o contrato para passarmos a aceitar também estudantes com deficiência.

Em 2017, tivemos a oportunidade de receber em nossa equipe um mediador com uma deficiência conhecida como Síndrome de Moebius, que consiste em um distúrbio neurológico caracterizado por paralisia dos nervos da face e falta de expressividade, além de alguns outros comprometimentos, como atraso no aprendizado. O trabalho de capacitação seguiu as mesmas diretrizes que são desenvolvidas com todos os novos mediadores, respeitando as particularidades de cada pessoa. Sua evolução foi parecida com a da maioria dos alunos e, com algumas adaptações no conteúdo didático, ele aprendeu os conceitos astronômicos e o exercício da mediação com liderança e responsabilidade. Sua presença na equipe está sendo uma experiência riquíssima para o Planetário.

Paralelamente, foram trabalhadas várias ações com os funcionários, para que fosse promovida a inclusão daquele jovem, diminuindo-se o capacitismo com ele e qualquer outra pessoa com deficiência. Segundo o coordenador dos mediadores, houve uma mudança em seu próprio conceito. Ele acreditava que, para ter um aluno com deficiência, a instituição deveria apresentar as condições perfeitas para recebê-lo. No entanto, foi importante entender que essa ideia inviabilizaria a inclusão de pessoas com deficiência, por duas razões.

A primeira é o fato de que condições perfeitas são bem difíceis de alcançar em uma instituição pública como a nossa, e a segunda é que, apesar de termos conhecimento de vários tipos de barreiras que dificultam ou impedem a acessibilidade e que devem ser superadas, só sabemos as reais necessidades de uma pessoa com deficiência quando convivemos com ela, pois cada pessoa é um ser diferente. Portanto, acessibilidade e inclusão são termos em constante atualização e a convivência ajuda a conhecê-los melhor.

Uma peculiaridade da Astronomia

Mantendo nossa atenção ao princípio do Desenho Universal para a adaptação de espaços já existentes, estamos trabalhando para inserir legendas em sistema Braille em todo o acervo do Museu do Universo, de modo a atender pessoas cegas e com baixa visão. Outra alteração em nosso espaço está em curso, estimulada por uma necessidade didática, que descreveremos a seguir.

A Astronomia é uma ciência essencialmente visual. Salvo algumas exceções, como a meteorítica, seus métodos baseiam-se em imagens. Isso torna sua divulgação para cegos ou pessoas com baixa visão especialmente desafiadora.

Em nosso projeto de adaptação, a área do museu, que chamamos de Nave Escola, contará com uma bancada onde serão dispostos diversos materiais acessíveis, de forma integrada ao desenho e à programação visual do ambiente já existente. Estarão disponíveis, ali, cadernos pedagógicos adaptados, compostos por folhas de papel cobertas por películas de PVC, com a transcrição das imagens do Sistema Solar em relevo e textos em sistema braille ‒ conforme orienta o trabalho de conclusão de curso de Laís Barcelos dos Santos, licenciada em Ciências Biológicas pela Uerj (SANTOS, 2019). Também está previsto um modelo da Lua em papel machê, desenvolvido pela professora Silvia Lorenz Martins, do Observatório do Valongo/UFRJ, juntamente com uma equipe multidisciplinar composta por alunos e profissionais do IBC (LORENZ-MARTINS, 2018; SILVA et al., 2019).

Essa proposta surge da inspiração em criar experimentos interativos que atendam, com maior eficiência didática, a cegos e pessoas com baixa visão, podendo também ser utilizados por visitantes videntes. Para essa atualização do espaço da Nave Escola, contamos com a consultoria de dois professores especialistas em educação de pessoas com deficiência visual – Priscila Alves Marques e Aires da Conceição Silva, ambos do IBC –, além de profissionais da SMDT.

Considerações finais

            Todo o trabalho que estamos desenvolvendo sobre acessibilidade no Planetário demonstra o quanto é crescente a preocupação das instituições museais em estarem preparadas para receber as pessoas com deficiência.

Gostaríamos de destacar a importância da interlocução com a equipe do Ines, que faz parte do Projeto de Acessibilidade Científico/Cultural Com e Para Surdos – composta pelas professoras ouvintes Maria de Fátima Ferrari e Stella Regina Savelli; pela professora surda Vanessa Pinheiro e pelas alunas surdas Fernanda Fernandes e Dheny Matos, estudantes do ensino médio. Além, é claro, da parceria com as equipes do IBC e do Observatório do Valongo, que possibilitou a avaliação das condições das informações expostas no museu, das necessidades de adequação dos ambientes e da produção de uma nova sessão de Planetário adequada ao público surdo. Da interação com esses parceiros, surgiu também um Grupo de Trabalho sobre Acessibilidade (com ampliação da rede de colaboradores).

As ações que estão sendo desenvolvidas com essas instituições contam com a participação e a representatividade de pessoas com deficiência, caminhando junto ao lema do Movimento Internacional sobre Direitos da Pessoa com Deficiência: “Nada sobre nós, sem nós”.

Para finalizar, a política de acessibilidade é compartilhada pela presidência e      por todas as áreas do Planetário. É fundamental para a sociedade que a mudança de paradigma na atenção à pessoa com deficiência parta de órgãos públicos, pois é da nossa competência cuidar da saúde, dar assistência, proteção e garantia de inclusão à população, sem preconceitos nem quaisquer formas de discriminação, por respeito aos Direitos Humanos, como, aliás, estabelece a Constituição Federal (BRASIL, 1988).

Referências

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, 2021. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 9 fev. 2021.

COSTA, A. F. et al. Museus de ciência e seus visitantes: pesquisa perfil-opinião 2013. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; Casa de Oswaldo Cruz; Museu da Vida, 2015.

FENACERCI. Checklist de acessibilidade dos espaços públicos de cultura. 2008. Disponível em: https://www.fenacerci.pt/biblioteca/publicacoes-fenacerci. Acesso em: 27 maio 2020.

IBGE. Censo demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.

LOPES, T. da S. Avaliação da acessibilidade no Planetário da Gávea (RJ). 2017. 61 f. Monografia (Licenciatura em Ciências Biológicas) – Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

LORENZ-MARTINS, S. Astronomia para pessoas com deficiência visual: um projeto de extensão do Observatório do Valongo – UFRJ. Revista das Questões, Brasília, v. 6, n. 1, 2018. DOI https://doi.org/10.26512/dasquestoes.v6i6.18715. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/dasquestoes/issue/view/1501. Acesso em: 9 fev. 2021.

NORBERTO ROCHA, J.; MASSARANI, L.; ABREU, W, V. de; INACIO, L. G. B.; MOLENZANI, A. O. Investigating accessibility in Latin American science museums and centers. Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. 92, n. 1, 2020. DOI 10.1590/0001-3765202020191156. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0001-37652020000101204&tlng=en. Acesso em: 9 fev. 2021.

NORBERTO ROCHA, J.; MASSARANI, L.; GONÇALVES, J.; FERREIRA, F. B.; DE ABREU, W. V.; MOLENZANI, A. O.; INACIO, L. G. B. Guia de museus e centros de ciências acessíveis da América Latina e do Caribe. 1. ed. Rio de Janeiro: Museu da Vida; Casa de Oswaldo Cruz; Fiocruz; RedPOP. Disponível em: https://grupomccac.org/publicacoes. Acesso em: 28 dez. 2020.

SANTOS, Laís Barcelos. O Sistema Solar ao alcance das mãos: uma proposta de material inclusivo. 2019. 66 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) – Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.

SILVA, A. da C.; FARIAS, J. de; ARRUDA, L. M.; MARTINS, S. L. Caderno tátil: inclusão de deficientes visuais na Astronomia. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE PRÁTICAS EDUCATIVAS EM MUSEUS E CENTROS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 2018, Rio de Janeiro. Anais […]. Rio de Janeiro: Mast; UFRJ; Museu Nacional, 2019. p. 146-149. Disponível em:

http://www.mast.br/images/pdf/publicacoes_do_mast/anaiseletronic_encontronacional2019.pdf. Acesso em: 13 jan. 2021.

Share this Page