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Sumário interativo

Rios em movimento: fomentando a acessibilidade no Museu da Vida

Felipe Vieira Monteiro

Resumo: Com o avanço tecnológico digital disponível na sociedade, as pessoas têm, cada vez mais, acesso a infinitas informações e o desejo de serem incluídas. Este artigo tem como objetivo abordar questões que envolvem a acessibilidade de uma exposição em um museu de ciência, além de introduzir as tecnologias assistivas disponíveis na atualidade. Nesse sentido, apresenta-se o relato de uma experiência pessoal, como profissional com deficiência visual, sobre o trabalho de consultoria em acessibilidade e audiodescrição realizado para tal exposição.

A metodologia desenvolveu-se em reuniões com a equipe de profissionais, na consultoria em audiodescrição, na visita técnica ao museu – para conhecer as instalações e os recursos que já haviam sido implementados – e na formação para mediadores. Concluiu-se, com este relato, que as tecnologias assistivas são de fundamental importância para a fruição, reflexão e inclusão de todos.

Introdução

            Na nossa sociedade, vêm ocorrendo grandes transformações, principalmente se considerarmos as questões tecnológicas. Desse modo, torna-se natural que o público em geral tenha mais acesso à informação e, consequentemente, ao conhecimento de seus direitos. Nesse processo de evolução, os equipamentos culturais (teatros, cinemas, bibliotecas, galerias, centros culturais, salas de concerto, museus etc.) também estão sendo modificados. Entretanto, as pessoas com deficiência, que representam uma parte importante do público, cada vez mais questionam as condições que cerceiam de diferentes maneiras a sua liberdade.

Em relação a essa reflexão, Leyton e Sanches (2018) despertam nosso pensamento para a educação deficitária, a ausência da possibilidade de questionamento e o sentimento de não pertencimento. Esses autores mencionam também os preconceitos ou sentimentos pré-fabricados que acometem diferentes pessoas, em sua diversidade de histórias de vida. Tais sentimentos reverberam na visita dessas pessoas ao museu e, consequentemente, têm impacto sobre o contato delas com a arte.

Ponderando os atravessamentos que prejudicam a qualidade do olhar e da escuta, da construção e do sentido, os autores (2018, p. 116) perguntam: “como fomentar a fruição, o debate e a reflexão crítica”? Dessa forma, é necessário que se pense sobre maneiras de incluir cada vez mais todos os públicos que frequentam o museu. Nessa perspectiva, os recursos de acessibilidade podem viabilizar esse processo de promoção da equidade.

Neste capítulo, será feito um relato, de cunho pessoal, da experiência deste profissional com deficiência visual ao prestar consultoria para acessibilidade e audiodescrição na exposição Rios em movimento, instalada no Museu da Vida, que faz parte da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Por meio da abordagem de questões relativas à acessibilidade, observadas na referida exposição, poderá ser verificada, neste texto, a importância da variedade de recursos de acessibilidade para a construção igualitária do conhecimento no ambiente museal.

A acessibilidade em museus

            Para que todos os públicos tenham acesso a qualquer espaço dentro da nossa sociedade, torna-se necessário, cada vez mais, o pensamento inclusivo. Não poderia ser diferente com relação aos equipamentos culturais, neste caso, os museus. Corroborando essa reflexão, Sarraf (2008) afirma que os museus precisam se reabilitar, pois são deficientes em relação ao acesso à informação para a diversidade de público. Tais espaços precisam passar por um processo de reabilitação que procure maneiras de aproximação e diferentes formas de alcance e de comunicação com a população.

            Baseando-se na Norma brasileira de acessibilidade (NBR 9050), que já vigora desde 1994, podemos afirmar que existe legislação que garante acessibilidade nos espaços sociais, incluindo os museus. No entanto, é necessário verificar a realidade prática dessa afirmação. Segundo o parágrafo único do Art. 23, do Decreto n.º 8.124/2013, que regulamenta a Lei n.º 11.904/2009 (Estatuto dos Museus), “[…] os projetos e ações relativas à acessibilidade universal nos museus deverão ser explicitados em todos os programas integrantes do inciso IV do caput ou em programa específico resultado de agrupamento ou desmembramento”.

            É muito comum que se associe acessibilidade a rampas, banheiros e barras de apoio. Entretanto, um museu inclusivo, segundo Salasar (2019), é aquele que possui tecnologia assistiva para todos os visitantes, sem distinção a partir da deficiência. Infelizmente, para os seres humanos que percebem o mundo através de todos os seus sentidos, as ações culturais ainda permanecem concentradas na exploração da visão, deixando de lado a riqueza de relações que podem ser mais holísticas e menos racionais, conforme afirma Sarraf (2008).

            A autora ainda reforça o fato de que a linguagem dos museus é regida pela cultura ocidental, com predominância da exploração visual, e isso muitas vezes leva os visitantes a uma experiência superficial em relação ao conteúdo das exposições. Viviane Sarraf conclui que, para incentivar a mudança de estratégias de mediação, são necessárias propostas de imersão em exposições de artistas contemporâneos, museus de ciência e expografias de mostras que já começam a utilizar a tecnologia com intenção de transpor as pessoas para situações inusitadas.

Na direção desse pensamento, devemos entender que as tecnologias assistivas são pesquisas e são também o desenvolvimento de instrumentos para a ampliação da autonomia de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, em suas atividades diárias, segundo o site do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações do governo brasileiro. Essa área engloba produtos, estratégias, metodologias, serviços e práticas para a promoção da qualidade de vida, a independência e a inclusão social desse público. Na sequência, veremos alguns desses recursos, que podem ser inseridos nas exposições de museus.

Recursos de acessibilidade para museus

            As possibilidades de acesso a equipamentos culturais são infinitas, mas, para promover a equidade, é necessário que esses locais tenham um olhar global sobre seu público. Eis os principais recursos de acessibilidade que contribuem para a promoção do acesso aos visitantes.

  • Recursos táteis: são voltados prioritariamente para pessoas com deficiência visual. Com eles, o usuário pode fruir a exposição por meio da percepção háptica. São representações do espaço como um todo, de um ambiente específico, da pintura de um quadro, da réplica de um elemento do acervo que pode estar em condições frágeis, a ponto de não poder ser tocado, entre outros. Vale ressaltar que os recursos táteis devem ter diferentes texturas, e ainda devem ser leves, de fácil manuseio e resistentes. Podem apresentar-se através de mapas, maquetes e representações táteis.
  • Os mapas exibem, em alto relevo, as divisões específicas do ambiente de cada exposição, pois, assim, o usuário tem condições de compreender como esse espaço está dividido. A maquete traz informações tridimensionais da estrutura externa ou interna do espaço no qual está localizada a exposição. Por fim, a representação tátil oferece informações tridimensionais de um quadro, de uma escultura, de um objeto ou de qualquer elemento que necessite de uma réplica.
  • Piso podotátil: proporciona a compreensão da informação pela percepção tátil, por meio da planta dos pés, segundo Ferreira (2009). É fundamental que exista um bom contraste de cores entre o piso podotátil e o solo do espaço. Dessa forma, os usuários com baixa visão sentem-se mais seguros e confortáveis.
  • Braille: a partir de informações do site do Instituto Benjamin Constant (2018), este é um sistema de escrita e leitura direcionado, prioritariamente, a pessoas cegas e com baixa visão. É composto pela cela Braille, que consiste na disposição de seis pontos na vertical, em duas colunas. Os diferentes arranjos desses pontos possibilitam a formação de 63 combinações ou símbolos. Vale ressaltar que, apesar de este recurso ser utilizado pela minoria das pessoas com deficiência visual, toda informação textual deve ser transcrita em Braille.
  • Fonte ampliada e alto contraste: segundo o Decreto n.º 5.296, de 2 de dezembro de 2004, e com o Ministério da Educação (20–), estes são recursos voltados, prioritariamente, para pessoas com deficiência visual e com baixa visão – condição em que o indivíduo tem acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho. No entanto, todas as pessoas que tiverem algum tipo de perda da acuidade visual podem se beneficiar.
  • O tamanho da fonte ampliada deve ser entre 16 e 32 e sugere-se que sejam utilizadas Arial ou Verdana, isto é, fontes que não trazem serifa (que são ornamentos agregados aos caracteres). Em relação ao alto contraste, este deve ser constituído por fundo escuro, com caracteres claros. A preferência entre os usuários é o fundo preto com caracteres brancos, mas, dada a heterogeneidade desse público, pode haver uma oscilação dessa combinação.
  • Audiodescrição: é um recurso de acessibilidade comunicacional que traduz informações visuais em verbais, fazendo com que, principalmente pessoas com deficiência visual, tenham acesso às informações de imagens estáticas, como as fotografias, desenhos, xilogravuras, pinturas, entre outros. Isso também vale para as imagens dinâmicas, como vídeos instrucionais e de divulgação, contidos em sites, bem como para qualquer tipo de material audiovisual.
  • Caneta pentop:é um dispositivo em formato de caneta que armazena, em sua memória interna, arquivos de áudio, os quais podem ser disparados por meio dos botões acessíveis do próprio equipamento. Os usuários também podem acessar os áudios fazendo o contato da ponta da pentop com a etiqueta específica que acompanha o kitdo produto. Cada etiqueta, que pode ser reutilizada diversas vezes, possui uma informação a ser identificada pela caneta e reproduzida ao visitante, de acordo com a faixa de áudio previamente configurada.
  • Videolibras: é um recurso no qual a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é transmitida por meio de vídeo – como monitores, displays, celulares ou tablets. A Libras é uma língua voltada prioritariamente para os surdos, segundo Cristiano (2017). Desde 24 de abril de 2002, ela foi reconhecida como a segunda língua oficial brasileira, pela Lei n.º 10.436. A Libras é uma língua de sinais ou gestual que, portanto, utiliza gestos e sinais na substituição da língua oral.
  • Linguagem simples: é um recurso que visa o acesso, de forma direta e clara, prioritariamente às pessoas com deficiência intelectual, síndrome de Down, dislexia, deficit de atenção e autismo. Toda informação textual original deve ser adaptada, com a utilização de palavras mais simples, sentenças mais curtas e com a apresentação de uma ideia de cada vez, de maneira que todas as pessoas, inclusive as que têm deficiência intelectual, possam compreender o conteúdo disponibilizado, conforme informado no site Movimento Down (2020).
  • Pictogramas: voltados prioritariamente para as pessoas com deficiência intelectual, são representações de objetos e conceitos por meio da forma gráfica, sem o auxílio de textos e de maneira simplificada, mas não perdendo a essência do significado, segundo a página do projeto Pictobike (20–), do curso de Design da Universidade Federal do Paraná.
  • Pranchas de comunicação: são recursos voltados prioritariamente para as pessoas com deficiência intelectual que não se comunicam oralmente e que não possuem a escrita funcional. Segundo o site da Clínica Cauchioli (2018), as pranchas são confeccionadas a partir de uma coleção de símbolos e imagens gráficas que apresentam características comuns entre si. Essas pranchas devem auxiliar o visitante em suas escolhas, como o local que deseja visitar, qual assunto sobre o qual deseja se informar, além de serviços básicos, como comedoria e banheiros.

O Museu da Vida: uma experiência acessível na exposição Rios em movimento

O Museu da Vida se apresenta a partir do lema “Saúde, ciência, cultura, diversão e educação caminham juntos”. Criado em 1999 e localizado em uma área arborizada da Fiocruz, no bairro de Manguinhos, na cidade do Rio de Janeiro, o Museu reforça, em suas ações, que é importante a prática da empatia para fomentar o respeito às diferenças.

Incluída nesse viés, a exposição Rios em movimento entrou em cartaz no dia 12 de dezembro de 2019 e, segundo o portal da Fiocruz, seu tema abrangeu as diferentes realidades fluviais, em uma mistura de arte e ciência. A exposição contou com 13 obras em pintura acrílica sobre tela, de Rodrigo Andriàn, criações em que o artista plástico explora as artes abstrata e contemporânea figurativa. Com uma abordagem estética e afetiva, as ilustrações abordam questões urgentes relacionadas à preservação dos corpos hídricos e do meio ambiente, além da dimensão cultural das águas em práticas artesãs, religiosas e em outras atividades humanas.

A exposição, que esteve em cartaz até dezembro de 2020, foi dividida em cinco módulos e contou com aparatos interativos, instalações artísticas e objetivos dialógicos,

criando uma proposta educativa de “rios em movimento”. Contou ainda com outros recursos visuais, como trechos de música e poesias estampadas nas paredes. Além disso, o evento ofereceu aparatos de acessibilidade, como audiodescrição e recursos táteis – que englobam as réplicas de elementos diversos (com as quais o usuário pode ter uma percepção háptica), pensadas para que o público pudesse explorar com suas próprias mãos alguns dos objetos expostos, como peixes, carranca, imagem religiosa, bacia, sereias, entre outros.

            Na próxima seção, será explicado como foi o processo de estruturação para a acessibilidade dessa exposição.

Relato: a estruturação de uma exposição acessível

            Como foi possível perceber, uma exposição que tem o objetivo de incluir pode contar com diversos recursos, de maneira que atenda a diferentes públicos. Contudo, para isso, são necessários profissionais capacitados e engajados nessa causa.

Nessa perspectiva, o Museu da Vida convidou-me para fazer parte da equipe responsável por desenvolver o projeto de acessibilidade da exposição Rios em movimento. Várias etapas foram necessárias para que ela pudesse ser apresentada ao público e, a seguir, apresento todas essas etapas.

Reunião com a equipe de acessibilidade

Em um primeiro momento, os profissionais envolvidos no projeto da exposição se reuniram para uma conversa, com trocas de saberes e traçado de estratégias sobre como proceder. Nessa reunião, já tínhamos alguns elementos desenvolvidos, como as pesquisas feitas sobre os rios brasileiros, as obras do artista plástico, algumas réplicas de obras para serem apresentadas, além de recursos táteis que poderiam ser disponibilizados para o público.

Logo de início, foi explanada a ideia de como seria a estrutura física da exposição. Esta faria uma analogia aos rios e a ideia era a de que o visitante fizesse uma visita em um caminho sinuoso, de modo a já proporcionar-lhe uma experiência sensorial. A equipe de acessibilidade apresentou cópias coloridas das obras do artista plástico que deveriam ser audiodescritas.

Nessa reunião, a equipe ainda levou a ideia de utilizarmos equipamentos para a reprodução da audiodescrição. A partir disso, sugeri o uso da caneta pentop, que,por seu baixo valor de orçamento, favoreceria a possibilidade de compra de um número maior de equipamentos, viabilizando mais autonomia para o visitante.

Preocupados com o fato de que, em hipótese alguma, a exploração tátil poderia causar qualquer desconforto ou falta de segurança aos visitantes, foram discutidos os materiais mais adequados para esse fim. Assim, tivemos atenção especial para materiais extremamente ásperos e também para algum elemento pontiagudo que viesse a ocasionar qualquer tipo de acidente, pensando prioritariamente nas crianças e nas pessoas com diabetes, que têm uma sensibilidade diferenciada nos dedos.

Consultoria de audiodescrição

            Como já foi dito, a audiodescrição é um recurso de acessibilidade comunicacional que atende, primordialmente, às pessoas com deficiência visual (cegas e com baixa visão), mas que pode beneficiar outros públicos. Nessa perspectiva, os roteiros da exposição Rios em movimento foram organizados de forma equilibrada, para dar acesso ao maior número de usuários.

            O conteúdo foi elaborado e narrado por um profissional da audiodescrição e contou com a minha consultoria em relação aos textos e às gravações, que foram disponibilizadas através da caneta pentop. Audiodescrevemos, de forma geral, os cinco módulos da exposição, a constituição de cada um deles e o que o visitante encontraria em cada espaço nela definido. É importante lembrar que a exposição Rios em movimento contou com inúmeros elementos visuais, que foram audiodescritos conforme solicitação da equipe de acessibilidade e com base no orçamento disposto para isso.

Visita técnica à exposição

            A visita técnica é fundamental para o processo de consultoria, pois trata-se do momento em que o profissional verifica os recursos de acessibilidade instalados. Na exposição em questão, especificamente, vários foram os recursos disponibilizados, daí a necessidade de um acompanhamento detalhado.

            A primeira etapa concentrou-se na disposição do piso podotátil. De início, nos deparamos com o desafio de harmonizar o recurso de acessibilidade arquitetônico com a disposição da Rios em movimento, que se caracteriza pela sinuosidade. Seguindo, nos concentramos em identificar as obras que teriam acessibilidade através da caneta pentop. Algumas etiquetas já estavam fixadas, com uma boa altura e demonstrando padronização. Fiz a sugestão de que fosse colocada uma superfície acrílica sobre as etiquetas, para que elas se destacassem, por conta do alto relevo.

            Além do recurso da audiodescrição, vários elementos táteis necessitavam de uma análise em relação à avaliação do tamanho, à espessura dos materiais, à textura e, principalmente, quanto à verificação sobre terem ou não elementos pontiagudos que pudessem causar riscos para o visitante. Também chamei a atenção para a necessidade de alto contraste nas cores dos elementos táteis. O mobiliário também foi avaliado, principalmente pensando nas pessoas em cadeira de rodas, para que elas tivessem acesso às bancadas com seus respectivos vãos para encaixe da cadeira, de modo que a disposição do mobiliário no espaço pudesse proporcionar uma boa circulação.

Na Rios em movimento, algumas obras contaram com uma representação tátil em que o usuário, principalmente o com deficiência visual, podia fazer uma exploração livre e ainda tinha a possibilidade da mediação de um educador, com informações sobre a obra e sentenças audiodescritivas. Tais representações foram avaliadas em relação ao material utilizado, sua dimensão, a altura em relação ao chão e a inclinação fixada. Outro aspecto importante para o qual, muitas vezes, não é dada a devida atenção, é o posicionamento da representação tátil em relação à obra original: as duas devem estar próximas, para garantir fruição daquela obra, em específico.

            Na verificação técnica do sistema Braille, que está disposto em diversos elementos, o posicionamento é sempre um desafio, pois os visitantes possuem alturas distintas. O ideal é que o texto em Braille tenha mobilidade, de forma que o leitor possa colocá-lo na altura mais confortável para si. Assim, sugeri que os pequenos textos fossem fixados em placas rígidas com diferentes formatos, que remetessem à temática da exposição. Recomendei ainda que essas placas fossem presas nas superfícies por cordões. Dessa forma, o usuário encontraria os textos com facilidade e ainda poderia posicioná-los na altura desejada.

É importante destacar que a conversa com a equipe de atendimento ao público com deficiência, tratando sobre mitos e verdades desse universo e sobre como ela deveria se portar em relação a todos os recursos disponíveis, foi uma ação fundamental. Esse assunto será abordado na sequência.

Formação para a equipe de mediação

            Os educadores são profissionais que contribuem muito para a fruição de uma exposição, pois trazem informações relevantes sobre os elementos encontrados no equipamento cultural, além de darem suporte para quaisquer necessidades que o visitante venha a ter em seu momento de lazer. Nesse sentido, é muito importante que a equipe esteja capacitada para o atendimento ao público, com informações históricas, domínio sobre os elementos mais relevantes, os recursos de acessibilidade disponíveis e, principalmente, sendo capaz de lidar com as pessoas com deficiência.

            A partir dessa premissa, no processo de consultoria, foi feito um encontro com todos os educadores e funcionários do Museu da Vida, para conversarmos sobre o contato deles com as pessoas com deficiência. O aprofundamento maior foi em relação às pessoas com deficiência visual, pois é sobre esse público que se tem a maior quantidade de dúvidas.

            A conversa iniciou com uma breve explicação sobre os termos atualizados em relação às pessoas com deficiência e com uma reflexão sobre os motivos pelos quais alguns deles caíram em desuso. Também foram apresentados os óculos escuros, as bengalas longas branca e verde, a aplicabilidade de cada uma delas, e fez-se menção aos cães-guia. A partir daí, foram apresentadas as diferenças e semelhanças entre as pessoas cegas e com baixa visão.

Dando continuidade à conversa, algumas questões práticas foram colocadas: a maneira de se dirigir a uma pessoa com deficiência visual, a condução dela pelo espaço, a observação em relação a obstáculos e a maneira correta de o visitante apoiar-se no educador. O atendimento e a condução de mais de uma pessoa com deficiência visual também foram demonstrados, além da simulação de como recepcionar uma pessoa e seu acompanhante.

            Por fim, ocorreu a demonstração de como auxiliar um visitante até o banheiro ou a qualquer dependência por onde ele deseje circular, como comedoria, saída, entre outros. Após essa visão geral de como se desenvolve o universo das pessoas com deficiência, foram apresentados todos os recursos de acessibilidade disponíveis na exposição.

Considerações finais

Grandes são os desafios que os equipamentos culturais enfrentam, como no caso dos museus de ciência, para incluir cada vez mais seu público visitante. Com o avanço tecnológico digital e o consequente acesso à imensidão de informações, uma heterogeneidade de indivíduos demonstra interesse pela visitação desses espaços. Para que isso ocorra de forma igualitária, são necessários vários recursos, sendo os de acessibilidade um exemplo.

Este texto procurou demonstrar que existem diversas possibilidades para promover o acesso a diferentes públicos, inclusive o de pessoas com deficiência, e que isso pode ser feito por meio de recursos táteis, Braille, audiotexto, audiodescrição, videolibras, pictogramas, pranchas de comunicação, entre outros. Espera-se que este relato tenha contribuído para a percepção das especificidades desses recursos e para a compreensão da aplicabilidade de cada um deles e de seu público-alvo.

Ao conhecer a exposição Rios em movimento, instalada, em 2019, no Museu da Vida, da Fiocruz, a partir do trabalho de consultoria em acessibilidade e audiodescrição, procurei demonstrar as possibilidades de promoção de acesso a todos de forma igualitária. Foi possível também identificar quais as etapas para a elaboração de uma exposição inclusiva, que vão desde a reunião com a equipe, passam pela consultoria em audiodescrição, pela visita técnica, até a formação dos mediadores.

Este relato de experiência trouxe reflexões sobre a elaboração de uma exposição inclusiva em um museu de ciência, com o fortalecimento da importância dos recursos de acessibilidade que cada vez mais são necessários para a fruição, a reflexão e a inclusão de todos. Entretanto, é importante citar que mais pesquisas que viabilizem o aprofundamento deste tema são necessárias.

Referências

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