Compartilhe/Share

Sumário interativo

A trajetória percorrida pelo Museu da Vida no campo da acessibilidade cultural

Hilda da Silva Gomes

Resumo: Este relato de experiência apresenta o esforço na elaboração e adaptação das ações realizadas pelo Museu da Vida (MV), espaço de educação não formal situado no campus da Fiocruz, em Manguinhos (RJ). O MV possui áreas expositivas que exploram temáticas relacionadas a ciência, história, arte e saúde. Tem como missão popularizar a ciência por meio de aparatos interativos, espetáculos teatrais, atividades educativas, objetos museológicos e exposições.

As ações relatadas apontam um recorte temporal de 2007 a 2019. Elas pretendem demonstrar a implementação da acessibilidade cultural como a dimensão que possibilita a mudança de postura frente ao reconhecimento dos diversos perfis de público em museus, em especial a necessária presença das pessoas com deficiência em ambientes culturais. Destacam-se algumas práticas educativas, com o objetivo de contextualizar nosso amadurecimento e traçar um breve panorama do que já foi realizado, priorizando a importância da elaboração de novas estratégias inclusivas e acessíveis.

Introdução

            Ao longo de sua existência, os museus passaram por transformações históricas e conceituais, buscando novas estratégias educativas para ampliar sua comunicação com o público. A função social e educativa desses espaços é abrangente e tem como objetivos centrais a autonomia e a emancipação das pessoas, bem como a valorização da diversidade cultural, diretrizes que, nesse contexto, estão associadas à discussão de questões éticas e políticas.

            Segundo o Estatuto do Conselho Internacional de Museus (do inglês Internacional Council of Museums – Icom), aprovado pela 22ª Assembleia Geral, ocorrida em Viena em 2007, o museu:

[…] é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe o patrimônio material e imaterial da humanidade e seu ambiente para fins de estudo, educação e deleite da sociedade (ICOM, 2019, p. 20).

            Ainda, de acordo com a Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que instituiu o Estatuto de Museus, esses locais são:

As instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento (BRASIL, 2009).

            Também se considera o museu como um espaço privilegiado para a articulação de aspectos afetivos, cognitivos, sensoriais e de trocas simbólicas. Neles, estamos imersos num mosaico de ambientes, linguagens, realidades e, devido a essas singularidades, eles envolvem desafios, tensões, dificuldades e retrocessos, mas também lutas, resistências, avanços e conquistas.      

            Nesse cenário, os museus trilham novos caminhos na elaboração de ações educativas, explorando afetividades e provocando emoções para gerar mais compartilhamento de saberes e interação. Museus, centros de ciências e espaços culturais devem desempenhar o papel de agentes de inclusão sociocultural, pois, como instituições a serviço do desenvolvimento da sociedade, devem estar comprometidos com ações que promovam mudanças de comportamento, além do entendimento de nossas relações com o mundo em que vivemos.

             A militância a favor da acessibilidade passa pela remoção de barreiras sensoriais, físicas e cognitivas (CHAGAS; STORINO, 2012). É importante reconhecer, como destaca Sarraf (2008), que a acessibilidade é uma forma de concepção de ambientes que considera seu uso por todos os indivíduos, independentemente de suas condições físicas, sensoriais e intelectuais. Assim, um museu acessível às pessoas com deficiência torna-se um museu mais significativo, pois, ampliando o acesso às informações qualificadas, fortalece a importância da divulgação científica e da popularização da ciência.

            Segundo Sassaki (2006), tornar um espaço acessível é garantir a implementação de níveis e dimensões de acessibilidade, tais como: arquitetônica (barreiras físicas), metodológica (estratégias educativas), atitudinal (práticas de sensibilização e conscientização), instrumental (uso de equipamentos e aparatos), programática (adoção da legislação) e comunicacional (uso de variadas formas de comunicação e de tecnologia assistiva). Para contextualizar uma experiência de museu que está implementando essas dimensões, é preciso apresentar o Museu da Vida (MV).

             O MV é um museu de ciências que ocupa, desde 1999, um papel importante como espaço de educação não formal, localizado no bairro de Manguinhos, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Do ponto de vista organizacional, é um departamento da Casa de Oswaldo Cruz/COC, sendo popularmente conhecido como “o museu da Fiocruz”. Possui áreas expositivas que exploram temáticas relacionadas a ciência, história, arte e saúde, representadas em exposições, objetos museológicos, peças teatrais e atividades educativas. Também desenvolve programas formativos, com características diversas, voltados para estudantes de níveis médio e superior. As práticas que serão apresentadas neste relato refletem nosso amadurecimento e dedicação em fortalecer a luta pelos direitos das pessoas com deficiência, estimulando sua presença em espaços culturais e promovendo seu protagonismo em curadorias de projetos acessíveis.

Primeiros passos: da reflexão à ação

            O desenvolvimento e a implementação de ações de acessibilidade requerem um olhar particular, de acordo com as especificidades de cada museu. Nosso contexto no MV inclui o fato de sermos um museu de ciências instalado numa importante instituição pública de saúde, que é atravessada por várias interfaces, como o ensino, a pesquisa e a divulgação científica. Dessa forma, foi fundamental estabelecer diretrizes e planos de ação para que, numa perspectiva de médio e longo prazo, pudéssemos implementar protocolos, normas, práticas e ações educativas que contemplassem as dimensões de acessibilidade.

            As medidas para tornar o MV um museu acessível tiveram início em 2007, com o projeto Ações de acessibilidade no Museu da Vida: divulgação científica para deficientes visuais – de autoria do biólogo Fabio Gouveia e da bolsista Isabela Menezes (na época, estudante de Design) –, que foi submetido ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Na época, houve uma parceria com o Instituto Benjamin Constant, tradicional instituição de ensino voltada para pessoas com deficiência visual, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro. O projeto propôs, entre outras ações, mapas táteis para visitantes cegos e recepção prévia desse público nas peças de teatro, incluindo conversa com os atores (para reconhecimento de voz) e tour pelo cenário. Também houve a elaboração de um material educativo com enfoque em ciência e saúde, voltado para crianças cegas e de baixa visão (MANO et al., 2009).      

            Em 2014, foi desenvolvido o relatório técnico Acessibilidade no Museu da Vida: pesquisa exploratória, do Núcleo de Estudos de Público e Pesquisa em Museus (Nepam), acerca das percepções e experiências dos mediadores do Serviço de Visitação e Atendimento ao Público do MV. As conclusões indicaram uma preocupação dos mediadores com o despreparo e a falta de formação específica para receber pessoas com deficiência, além da falta de estrutura física e arquitetônica das áreas expositivas. Foi apontado urgência em iniciar um plano de ação que incluísse: a melhoria da infraestrutura do museu, a elaboração de um protocolo de atendimento, a formação regular da equipe, o estabelecimento de parcerias internas e externas, além da escuta de profissionais com deficiência e sua inclusão na equipe do MV (STUDART; MANO; GOUVEIA, 2014).

            Ainda em 2014, o MV foi convidado a participar do projeto Faperj Quebrando barreiras culturais: a ciência e o surdo, organizado pela professora Vivian Rumjanek, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ. Seus objetivos principais eram permitir o desenvolvimento de uma série de sinais científicos na Língua Brasileira de Sinais (Libras) e formar mediadores surdos, que pudessem atender ao público em museus e espaços de ciências, contribuindo para a inclusão social e científica. Com esse convite, surgiu a necessidade da formação de um grupo de trabalho (GT) que se dedicasse às questões de acessibilidade no MV.      

            O GT desenvolveu a ação educativa Formação de mediadores surdos, com a participação de integrantes do projeto: quatro bolsistas surdos, um intérprete de Libras e uma professora de Física. Essa ação teve como meta potencializar a reflexão sobre a acessibilidade de pessoas surdas em museus de ciências, buscando diminuir as barreiras comunicativas e culturais que dificultam seu acesso ao conhecimento científico. A metodologia envolveu três etapas: reuniões para a organização do trabalho e desenvolvimento de estratégias educativas para a formação de mediadores surdos; observação, exercício e vivência da mediação (Figura 1); além do planejamento do evento O dia do Surdo no MV. A partir da análise das ações e do aprendizado de todos os envolvidos nesse projeto/processo dialógico, a práxis se fez presente e nos permitiu analisar criticamente quais mudanças eram necessárias para um melhor atendimento do público de pessoas surdas no Museu da Vida.

            Nessa avaliação, definimos três elementos que devem ser reconhecidos como importantes para o desenvolvimento de outras ações de acessibilidade: os aspectos cultural, estrutural e metodológico. No aspecto cultural, observamos a lacuna linguística entre os ouvintes e as pessoas surdas, justamente pela dificuldade de comunicação e desconhecimento da Libras. Nesse sentido, a figura do intérprete ainda é fundamental para mediar essa relação dialógica. No aspecto estrutural, é fundamental rever a organização física das áreas expositivas. Já o aspecto metodológico envolve não só redimensionar a elaboração de conteúdos, como também repensar as soluções expográficas que acompanham as exposições, de forma que elas sejam acessíveis.

             Consideramos que o aprendizado se deu na construção coletiva das estratégias, nas dificuldades e superações delas, o que nos possibilitou identificar a contribuição dos bolsistas surdos na elaboração de roteiros bem específicos de atividades museais acessíveis. Essa experiência representou uma riqueza de práticas pedagógicas e de comunicação não só para os envolvidos no projeto, mas também para toda a equipe do Museu da Vida. Além disso, a interação do grupo de jovens surdos tornou possível o estabelecimento de novas relações educativas, sociais e culturais.

Três homens jovens estão em uma sala. O do meio sinaliza com as mãos enquanto o da esquerda, sorrindo, aponta para a mão dele. O jovem da direita observa sorrindo. Estão em frente a uma bancada onde há um modelo de célula, dois potes de plástico e uma garrafa pet com líquido laranja. Atrás dos jovens, há uma estante com livros e, na prateleira de cima, três garrafões grandes com corantes de cores vermelha, cinza e amarela.
Figura 1: Dois jovens surdos e um intérprete de Libras realizam vivência de mediação na oficina “Faça a sua célula”, na sala do Parque da Ciência (2014).
Fonte: Acervo da autora.

             Em 2016, o MV iniciou um trabalho para tornar acessíveis as atividades teatrais na área expositiva, denominada Ciência em Cena, que propõe um encontro entre arte e ciência por meio de espetáculos teatrais, esquetes e oficinas. A peça escolhida foi o esquete Conferência sinistra, que é baseado numa charge e oferecido para o público de faixa etária a partir de 12 anos. A proposta inicial foi elaborar uma versão destinada a pessoas surdas, com base numa ação educativa já existente.

             Realizou-se, então, um estudo que definiu ser fundamental que os intérpretes de Libras se apropriassem do texto e compreendessem a narrativa e a estética cênica. A partir do entendimento de que a cultura representa não só criação artística ou de entretenimento, mas um campo de realização humana, pensamos em possibilitar um encontro que pudesse potencializar as relações entre arte e ciência para o público de pessoas surdas. Foi uma experiência significativa, tanto para os profissionais envolvidos quanto para os trabalhadores surdos, pois envolveu uma troca de saberes e aprendizados que nos apontou avanços no que diz respeito às dimensões de acessibilidade, à necessidade de elaboração de mais atividades acessíveis, além de novos desafios a serem superados.

            A combinação entre arte e ciência mostra-se fundamental para a construção de visões de mundo mais amplas, críticas, criadoras e, portanto, mais cidadãs. Quando entendemos a busca pela acessibilidade como uma ação que precisa ser efetivada num sentido mais abrangente, é natural que desejemos superar as barreiras que tratam tanto dos aspectos físicos – de mobilidade e arquitetônicos – quanto dos intelectuais – informacionais e emocionais. É indispensável criar condições para que as pessoas com deficiência possam usufruir dos acervos e compreender as diversas narrativas expostas nos museus.

Em um palco estão três atrizes, uma em pé e duas sentadas em bancos pequenos de madeira. A que está de pé usa uma túnica cinza, as que estão sentadas usam túnicas preta de bolinhas brancas e branca de bolinhas pretas. As três têm o rosto maquiado como o de uma caveira, usam um quepe branco e seguram uma foice. Em pé e atrás das atrizes sentadas, há dois homens usando roupas pretas. À esquerda da imagem, um intérprete de Libras sinaliza.
Figura 2: Esquete Conferência sinistra, no Museu da Vida (2016).
Fonte: Acervo da autora.

            A partir de 2017, três acontecimentos marcaram o avanço de nossa trajetória no desejo de tornar o MV um museu acessível: sua inclusão no Guia de museus e centro de ciências      acessíveis da América Latina e do Caribe (NORBERTO ROCHA et al., 2017), a criação do Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência e a ocorrência de um pequeno acidente sofrido por um aluno cego do Instituto Benjamin Constant, em visita ao MV, sobre o qual falaremos a seguir.      

            O caso aconteceu em junho daquele ano e foi um divisor de águas para que fôssemos instados a assumir nossa responsabilidade educativa e social no que se refere a reconhecer que um museu não pode ser apenas para alguns, devendo ser para todos. Cabe ressaltar que grupos de pessoas com deficiência nos visitavam sem regularidade e, como não somos um museu organicamente acessível, ainda não dávamos a devida atenção à mediação adequada. Além disso, não havia uma dinâmica de comunicação que desse conta de, após o agendamento desses grupos, enviar com antecedência a informação ao setor educativo para que houvesse, minimamente, uma preparação para recebê-los.

            Um tombo nos fez traçar uma nova trajetória. Num momento de distração, um menino cego de 10 anos se separou de seu grupo, caminhou livremente e caiu num espaço aberto, rolando dois níveis de degraus. Apesar de o acidente não ter sido grave, o fato nos impactou e nos desafiou a mudar o curso de nossa rotina diária no atendimento às pessoas com deficiência. Estabelecemos uma nova organização, que envolveu reuniões com a equipe do agendamento e o setor educativo, para traçar um procedimento de trabalho. Além disso, foi criado e executado um protocolo com orientações, que reforçou a preparação prévia das atividades voltadas a esse público, por meio de um direcionamento do ato do agendamento e da estruturação de uma ação integrada da equipe.

            Com essa nova orientação, a procura de grupos de pessoas com deficiência por visitas agendadas ao MV vem crescendo, o que demandou a formação de profissionais e bolsistas aptos a atendê-las, a elaboração de estratégias educativas acessíveis e a implementação gradual de recursos de tecnologia assistiva nos projetos de exposições temporárias e atividades teatrais. Não podemos deixar de mencionar o aprofundamento que tivemos no estudo sobre esse tema e o compartilhamento de saberes com outros museus e profissionais especialistas no campo da acessibilidade cultural. Investimos na formação de nossa equipe, realizando três workshops, nos meses de agosto, setembro e outubro de 2018.

Em área externa do Parque da Ciência, três pessoas estão tocando e tateando um totem com símbolos em relevo. Um homem branco está de costas para a foto. Outro homem, mais alto e moreno, está com vendas nos olhos. Ele também está tateando o totem e segurando o braço de uma mulher branca. Ela está ao lado dele e olha para o totem
Figura 3: Atividade de experimentação de painéis táteis na área externa do Parque da Ciência (2018).
Fonte: Acervo de Alex Arruda.
Um homem e uma mulher estão sentados em cadeiras, em frente a uma mesa onde há um computador, em um auditório. A mulher toca, com sua mão, a mão do homem, que está para cima. O homem olha para um telão ao fundo, onde há uma imagem de um jovem negro em um local arborizado
Figura 4: Auditório do Museu da Vida. No telão aparece a imagem de Bruno Ramos, educador negro e surdo, interpretando o Hino Nacional em Libras. Abaixo, sentados, um homem faz Libras tátil numa mulher cega (2018).
Fonte: Acervo de Alex Arruda.

            Em 2019, tivemos dois momentos de bastante sinergia: a recepção de duas estagiárias surdas, que fazem parte do Projeto Jovem Aprendiz, e o início de um curso de Libras no MV. O curso básico, destinado à equipe de educadores do museu, é resultado de uma parceria entre a Fiocruz e o Centro de Vida Independente (CVI), associação que, há mais de 30 anos, luta pela inclusão de pessoas com deficiência no Brasil. Essa ação vem ao encontro do lema “Nada sobre nós sem nós”, que possibilita uma nova prática pedagógica, conferindo mais pluralidade às vozes de atores envolvidos no trabalho educativo.

Próximos passos: um museu cada vez mais inclusivo e acessível

            Depois daquele tombo… Insistimos em manter um grande processo de sensibilização institucional para ampliar o acesso de pessoas com deficiência ao MV, por meio de seu protagonismo na elaboração de estratégias expositivas e ações educativas (GOMES, 2019).      

            Ainda, estamos investindo em projetos de captação de recursos externos para que nossas peças de teatro ofereçam os instrumentos de tecnologia assistiva, como no espetáculo O problemão da banda infinita, que esteve em cartaz durante todo o ano de 2019, com intérpretes de Libras e audiodescrição. Potencializamos a concepção e o desenvolvimento de nossas exposições temporárias, prevendo as dimensões de acessibilidade e a consultoria de especialistas com deficiência.

            A existência da Política Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência, amparada na Lei Brasileira de Inclusão, a LBI (BRASIL, 2015), vai tornar possível a formalização da oferta de vagas para estágio e contratação de pessoas com deficiência, institucionalizando sua presença por meio da ocupação de cargos, da execução de funções e da construção de sinergias nas dinâmicas internas dos processos de trabalho. Estamos, neste momento, vivendo expectativas e perspectivas de fomentar a pesquisa e produzir nosso Programa de Acessibilidade. A ideia é que ele sirva como força motriz e referência, prosseguindo na caminhada pelo aprofundamento teórico-prático das equipes e em sua sensibilização, construindo redes para conhecer a realidade de outros museus, estabelecendo parcerias com instituições dedicadas ao trabalho em acessibilidade para que, dessa forma, possamos sedimentar de forma segura e responsável nosso trabalho no campo da acessibilidade cultural.

            Sabemos que ainda são poucos os museus que estão equipados e preparados para atender, de forma plena, pessoas com as mais diferentes deficiências, oferecendo a elas não apenas o acesso físico a suas dependências, como também a possibilidade de interação e fruição estética. Existem muitas dificuldades que envolvem aspectos sociais, econômicos e culturais, os quais se traduzem, por exemplo, na dificuldade de adequação arquitetônica de prédios históricos ou na falta de adesão da equipe à causa da acessibilidade.

            Não somos uma ilha e estamos num mundo com realidades distintas, que exclui, discrimina, rejeita e invisibiliza. Para nos tornarmos, cada vez mais, um museu acessível e inclusivo, precisamos estabelecer a acessibilidade atitudinal como ponto de partida e a empatia como um princípio na defesa pelos direitos das pessoas com deficiência. Museus podem e devem ser espaços dinâmicos de ressignificações, legitimando a presença dos sujeitos na construção de lugares seguros onde possamos promover a sensação de pertencimento a partir da mobilização dos acessos afetivos.

Referências

BRASIL. Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009. Institui o Estatuto de Museus. Brasília, DF: Presidência da República, 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11904.htm. Acesso em: 11 fev. 2021.

BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF: Presidência da República, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm. Acesso em: 11 fev. 2021.

CHAGAS, M.; STORINO, C. Prefácio. In: COHEN, R.; DUARTE, C.; BRASILEIRO, A. (org.). O desafio da acessibilidade em museus. Brasília: MinC/Ibram, 2013.

GOMES, H. Depois daquele tombo… A implementação da acessibilidade atitudinal no Museu da Vida. 2019. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Acessibilidade Cultural) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.

ICOM.  Sobre a proposta da nova definição de Museu. ICOM Portugal. Lisboa, 10 set. 2019. Disponível em: https://icom-portugal.org/2019/09/10/sobre-a-proposta-da-nova-definicao-de-museu/. Acesso em: 11 fev. 2021.    

MANO, S. M. F.; GOUVEIA, F. C.; BONATTO, M. P. O.; SILVA, I. M.; SILVA, A. K. S. Cata piolho: uma atividade sobre pediculose para crianças da educação infantil e seu projeto de adaptação para crianças deficientes visuais. In: REUNIÓN DE LA REDPOP, 9., 2009, Montevidéu. Ponencias orales […]. Montevidéu: RedPOP, 2009.

NORBERTO ROCHA, J.; MASSARANI, L.; GONÇALVES, J.; FERREIRA, F. B.; DE ABREU, W. V.; MOLENZANI, A. O.; INACIO, L. G. B. Guia de museus e centros de ciências acessíveis da América Latina e do Caribe. 1. ed. Rio de Janeiro: Museu da Vida; Casa de Oswaldo Cruz; Fiocruz; RedPOP, 2017. Disponível em: https://grupomccac.org/publicacoes. Acesso em: 28 dez. 2020.

SARRAF, V. Reabilitação do Museu: políticas de inclusão cultural por meio da acessibilidade. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Departamento de Ciência da Informação/Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. DOI: https://doi.org/10.11606/D.27.2008.tde-17112008-142728

SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 7. ed. Rio de Janeiro: WVA, 2006.

STUDART, D.; MANO, S. M. F.; GOUVEIA, F. Acessibilidade no Museu da Vida: pesquisa exploratória. Percepções e experiências dos mediadores do Serviço de Visitação e Atendimento do Museu da Vida em relação ao atendimento e recepção do público portador de deficiência. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; Casa de Oswaldo Cruz; Museu da Vida, 2014. 15 p. (Relatório Técnico, 1).


Share this Page