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Série Dicas práticas para divulgadores científicos: ACESSIBILIDADE EM MUSEUS DE CIÊNCIAS

Início de Expediente
Luisa Massarani, coordenação e texto
Catarina Chagas, texto
Jessica Norberto Rocha, colaboração e texto
Barbara Mello, design gráfico
Fim de Expediente

Início de Box explicativo
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT- CPCT) e a Musa Iberoamericana: Red de Museos y Centros de Ciencia-Cyted têm realizado pesquisas para compreender como a sociedade interage com a ciência. Um de nossos objetivos com essas pesquisas é gerar subsídios para o aperfeiçoamento de práticas de divulgação científica em diferentes meios, como os centros e museus de ciência e os veículos de comunicação de massa. Por isso, o que você lerá a seguir são insights que nossos pesquisadores tiveram ao longo de sua pesquisa, seja revisando a literatura especializada, seja no campo, acompanhando de perto atividades de divulgação científica e seus participantes. Esperamos, assim, contribuir para que você reflita e avalie suas próprias atividades de divulgação científica.
Fim de Box explicativo

Em 2006 (portanto, mais de uma década atrás!), a Organização das Nações Unidas promoveu uma convenção sobre os direitos das pessoas com deficiências. Um dos resultados desse encontro foi um documento, assinado pelos países participantes – incluindo o Brasil e todos os outros países latinoamericanos –, assumindo, entre outros, o compromisso de respeitar o direito das pessoas com deficiência de ter acesso aos diferentes aparatos culturais, como os museus.

Mais de 13 anos depois, embora o termo acessibilidade esteja cada vez mais presente nas discussões sobre a inclusão social em atividades de divulgação científica, ainda há muita dúvida e desinformação sobre o que ele, de fato, representa. Quando nos perguntamos o que pode ser feito para tornar nossos museus e centros de ciência mais acessíveis, uma parte importante dos profissionais e gestores desses espaços pensa apenas nos atributos físicos que podem facilitar o trânsito de pessoas com dificuldades de locomoção – por exemplo, a instalação de rampas, elevadores e por- tas amplas que permitam a passagem de cadeiras de rodas.

Garantir que pessoas com deficiência física possam se locomover livremente no interior de museus e suas exposições é, obviamente, fundamental. Por outro lado, quando falamos de promover a acessibilidade, queremos também romper com barreiras impostas a pessoas com outros tipos de deficiência, incluindo, por exemplo, pessoas surdas e com deficiência auditiva, pessoas com deficiência visual, com transtorno do espectro autista ou com outro tipo de neuro- diversidade, ou com deficiência múltipla.

DIVERSIDADE E INCLUSÃO

Início de destaque
NÃO EXISTE UM PÚBLICO UNIFORME DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.
Fim de destaque

Além de considerar os diferentes tipos de deficiências, é importante lembrar que as pessoas com deficiências estão em varia- dos grupos socioeconômicos: são crianças, adultos e idosos; estudantes e profissionais; de classe alta, média e baixa; com diferentes níveis educacionais. E há sutilezas dentro de grupos com deficiências semelhantes – por exemplo, há surdos com perda auditiva total ou parcial, alguns se comunicam oralmente, alguns fazem leitura labial, alguns (mas nem todos) falam língua de sinais, e têm níveis diferenciados de alfabetização na Língua Portuguesa. Portanto, não existe uma estratégia única para atender a todos.

DAR ACESSO É ACOLHER

Conseguir transitar em um estabelecimento não é suficiente para ter acesso a ele e usufruí-lo em todas as suas possibilidades. Portanto, quando falamos em acessibilidade, estamos falando em (mas não somente de) rampas, elevadores, intérpretes de línguas de sinais, legendas em braile, audiodescrições, módulos táteis etc.
O objetivo é permitir que qualquer visitante, independentemente de suas condições físicas ou comunicacionais, possa participar, de maneira autônoma, das exposições e de outras atividades – não como uma categoria à parte, a quem é oferecida apenas uma parcela da experiência.

Nesse processo, promover o acolhimento e a comunicação com todos os públicos é fundamental. Esse esforço passa por ter uma gama de estratégias de acessibilidade, como disponibilizar vídeos com audiodescrição e janelas em língua de sinais, oferecer material impresso para cegos ou pessoas com baixa visão, criar e adaptar ambientes para crianças, jovens e adultos com transtornos do espectro autista – por exemplo, reduzindo o volume do áudio em sessões de planetário ou aumentando a iluminação em ambientes escuros, como aquários. Além disso, é necessário criar formas de diálogo, por meio de sites e aplicativos mais acessíveis, em que visitantes com deficiências possam obter informações para planejar sua visita.

Vale lembrar que parte importante do público que usufrui das ações de acessibilidade são as pessoas com deficiência, contudo, outros públicos também se beneficiam da variedade de formas de acesso ao conteúdo da exposição – como idosos, crianças, pessoas com baixo letramento, estrangeiros, grávidas, famílias com carrinho de bebês, entre outras.

OUÇA SEU PÚBLICO

Início de destaque
OS MELHORES CONSULTORES PARA UM MUSEU QUE QUER INICIAR OU APERFEIÇOAR SUAS INICIATIVAS DE ACESSIBILIDADE SÃO SEUS PRÓPRIOS VISITANTES.
Fim de destaque

Portanto, procure encontrar formas de ouvir a opinião de visitantes cegos, surdos, autistas ou com deficiência física sobre a experiência deles durante a visita. Pergunte quais são as barreiras que enfrentaram e o que gostariam de encontrar.

Lembre-se, ainda, que, se o seu museu não parece ser visitado por deficientes físicos, visuais ou auditivos, entre outros, a explicação pode ser que esses públicos simplesmente não se sentem, por algum motivo, convidados a ocupar esse espaço e participar de suas atividades. Nesse caso, você vai precisar de um esforço um pouco maior para encontrar pessoas que possam lhe auxiliar a implantar as ações necessárias.

EQUIPES PREPARADAS

Muitos mediadores e equipes que lidam diretamente com o público em museus de ciência não se sentem preparados para lidar com as pessoas com deficiência.

Início de destaque
ASSIM, UM ASPECTO IMPORTANTE DA ACESSIBILIDADE NESSES ESPAÇOS É CAPACITAR SUA EQUIPE PARA LIDAR COM AS ESPECIFICIDADES DESSAS VISITAS.
Fim de destaque

A diversidade é outro ponto fundamental: a presença de mediadores surdos ou cegos, por exemplo, é um caminho possível para tornar mais fácil o acolhimento a visitantes com as mesmas deficiências e para que se sintam representados na instituição.
Em vários museus de ciências do Brasil onde há programas de acessibilidade, o visitante que irá usufruir das ações de acessibilidade – por exemplo, guia vidente ou intérprete de língua de sinais – deve agendar com antecedência sua participação. Sabemos que, muitas vezes, esta é a forma possível de oferecer esses serviços, mas precisamos ter em mente que não é a ideal, pois tem impacto negativo na autonomia desses visitantes.

MAIS QUE BOA INTENÇÃO, COMPROMISSO INSTITUCIONAL

Criar museus verdadeiramente acessíveis e inclusivos não é uma tarefa fácil, e requer comprometimento não apenas da equipe de atendimento aos visitantes, mas dos próprios gestores dos museus.

Início de destaque
EMBORA HAJA INICIATIVAS SIMPLES E DE BAIXO CUSTO PARA FAVORECER A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, OUTRAS VÃO REQUERER UM ENGAJAMENTO MAIOR E, TALVEZ, ORÇAMENTO PRÓPRIO.
Fim de destaque

Por isso, é importante prever a acessibilidade no planejamento estratégico e na missão institucional do museu. O direito de acesso a espaços de lazer e cultura é garantido por lei a todos os cidadãos, e deve ser respeitado.

EXEMPLOS DE INICIATIVAS PARA PROMOVER ACESSIBILIDADE:

Disponibilizar vídeos, apps e softwares com opção de audiodescrição e janela de língua de sinais.
Oferecer opção de regulagem de volume nos módulos que utilizam recursos de áudio.
Disponibilizar informações, de forma clara e objetiva, sobre as estratégias de acessibilidade que o local promove e se é necessário ou não o agendamento – é relevante que o público saiba o que esperar da instituição.
Preparar réplicas 3D de objetos exibidos, para que possam ser manipuladas.
Adaptar o site do museu com recursos de acessibilidade, como audiodescrição das imagens, aumento de fonte e contraste e intérprete de língua de sinais.
Instalar piso tátil, planejado em conjunto com a curadoria da instituição museal, para facilitar a locomoção de pessoas com deficiência visual.
Disponibilizar informações sobre horários de pico de visitas e horários mais tranquilos, bem como mapas dos espaços para acesso antes da visita.
Oferecer espaços para descanso e momentos tranquilos, sem excesso de estímulos sensoriais.
Disponibilizar cadeiras de rodas para uso interno, e garantir que portas, corredores e espaços expositivos sejam livres de barreiras e grandes o suficiente para que se possa transitar com elas.
Oferecer mapas táteis na entrada do museu e em cada sala de exposição, bem como mapas táteis que possam ser leva- dos pelos visitantes durante a visita.

Garantir segurança e rotas de fugas acessíveis para todos os visitantes, inclusive para as pessoas com deficiência.
… e muitos outros, claro! As ações de acessibilidade e inclusão serão fruto da experiência individual de cada instituição.

Não existe fórmula única para a acessibilidade em museus. Cada um, de acordo com sua realidade, vai encontrando sua forma de pro- mover o acesso a exposições e atividades. Fique atento às necessidades e à diversidade do seu público e procure compartilhar experiências com outros profissionais de museus e centros de ciência preocupados com acessibilidade. Aprenderemos juntos!

Confira, abaixo, publicações recentes do INCT- CPCT e Musa Iberoamericana: Red de Museos y Centros de Ciencia-Cyted sobre a experiência de adolescentes na visita em museus de ciência:

ABREU, W. V. de ; ROCHA, J. N.; MASSARANI, L. ; INACIO, L. G. B. ; MOLENZANI, A. O. Acessibilidade em planetários e observatórios astronômicos: uma análise de 15 instituições brasileiras. Journal of Science Communication América Latina, [s.l.], v. 02, n. 02, p.1-18, 26 nov. 2019. Acesso em: https://jcomal.sissa.it/pt-br/02/02/JCOMAL_0202_2019_A04

NORBERTO, J. ; MASSARANI, L. ; GONÇALVEZ, J. ; FERREIRA, F. ; ABREU, W.; MOLENZANI, A. ; INACIO, L. G. (Orgs.). Guia de museus e centros de ciências acessíveis da América Latina e do Caribe. Rio de Janeiro: COC-Fiocruz, 2017. Acesso em: https://grupomccac.org/publicacoes/

ROCHA, J. N. ; MASSARANI, L. ; ABREU, W. V. de; INACIO, L. G. B. ; MOLENZANI, A. O. . Investigating accessibilityin Latin American science museums and centers. Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. 92, n. 01, p. 1-16, 2020.

Início de Box com marcas
INCT CPCT
MUSA CYTED
CYTED
FIOCRUZ
CASA DE OSWALDO CRUZ
CNPQ
FAPERJ
Fim de Box com marcas
Fim do texto.

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